A Era do Estoicismo

Zenão de Cítio: O Fundador do Estoicismo

Capa do artigo Zenão, o fundador do estoicismo, com o busto de zenão sob um fundo escuro e estrelado.

Introdução

Há muito tempo um comerciante fenício levantava âncora e partia pelo mar mediterrâneo com um carregamento de mercadorias preciosas, mais tarde, aquele barco sucumbiria a um naufrágio. Havia sido uma tempestade? Erro humano? Tudo isso não importava, pois a mercadoria havia se perdido…

Na imagem há uma representação artística de Zenão em seu barco navegando pelo mediterrâneo. Zenão carrega consigo um livro. Ao fundo uma montanha e o céu que anuncia a chegada de uma tempestade.
Representação artística de Zenão de Cítio, navegando pelo seu barco no mediterrâneo

Numa ilha chamada Chipre a leste no mediterrâneo, nascia Zenão de Cítio, aquele que viria ser o Fundador do Estoicismo. Naquela época, a sociedade vivia o auge da cultura helenística, difundida pelas conquistas de Alexandre, o Grand. Uma era de eferverscência intelectual, onde grandes pensadores influenciavam o pensamento através da Filosofia, Arte e Cultura. Foi neste cenário fértil que Zenão despertou a busca pela Sabedoria.

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Origens do Estoicismo e a Jornada de Zenão

Na imagem, a representação de socrates em sua estátua com corpo atlético e perfeito
Estátua representando Sócrates

Zenão nasceu por volta de 333 a.C. na cidade de Cítio, que hoje é parte do Chipre. Naquela época, os gregos exerciam grande influência sobre o pensamento filosófico, político e cultural. Uma das idealizações predominantes era a perfeição física, vista como reflexo de virtudes morais e intelectuais. Por esse motivo, muitas estátuas na antiguidade eram representações desse ideal.

No entanto, Zenão era um pensador diferente. Ele foi descrito por Diógenes Laércio em sua obra “Vidas e Doutrinas dos Filósofos Ilustres” como um rapaz esquisito, com pescoço torto, alto, moreno, débil e delicado. Na verdade, Zenão valorizava a simplicidade e incorporava essas ideias em sua vida cotidiana. Existe até mesmo um monumento em sua homenagem localizado na ilha de Chipre, o qual reflete essa simplicidade de Zenão.

Zenão em um monumento, na ilha do Chipre
Monumento de Zenão, na ilha do Chipre

Podemos observar que, até mesmo na estátua criada em sua homenagem, não se buscava retratar a idealização da perfeição física, pois Zenão não se preocupava com isso.

O Naufrágio de Zenão

naufragando fiz uma boa viagem

Reconstituição artística do rosto de Zenão de Cítio, o fundador do estoicismo
Reconstituição artística do rosto de Zenão de Cítio, o fundador do estoicismo

Segundo a lenda, em uma de suas viagens pelo Mediterrâneo, a embarcação de Zenão naufragou, resultando na perda de toda a carga de bens preciosos. Apesar disso, Zenão sobreviveu. Esse incidente provavelmente o fez refletir sobre mudar sua vida.

Na antiga Atenas, a principal cidade da Grécia, Zenão é dito ter buscado conselhos de um oráculo (templos onde as pessoas consultavam os deuses) para viver da melhor forma possível. Os deuses lhe aconselharam a “tornar-se igual aos mortos”.

Zenão interpretou essa mensagem como uma indicação de que ele deveria buscar conhecimento junto aos antigos filósofos. Isso despertou seu grande interesse pela Filosofia e o levou a conhecer Crates de Tebas, um filósofo que, segundo alguns historiadores, foi discípulo de Diógenes, o Cínico. Esse encontro pode ter sido o ponto de partida para a filosofia que posteriormente influenciaria Zenão na criação de sua própria escola filosófica, o Estoicismo.

Embora não saibamos exatamente quando, Zenão certa vez disse: “Naufragando, fiz uma boa viagem”. Essa frase faz referência àquela lendária jornada na qual ele perdeu tudo, mas que não foi tão terrível quanto muitos poderiam pensar. Isso revela que ele aceitou seu destino e reconheceu que a vida é cheia de adversidades. Zenão não podia controlar esse fato, mas podia aprender a lidar com isso. Sem o naufrágio, talvez ele jamais tivesse se interessado pela filosofia. Sem dúvida, Zenão ressalta a importância de uma atitude mental diante das circunstâncias que nos cercam. Mesmo nos momentos difíceis, podemos escolher como reagir a esses acontecimentos, e é essa perspectiva que faz toda a diferença na busca pela virtude e sabedoria estóica.

O estoicismo de Zenão

Zenão sentado numa cadeira ministrando ou palestrando para os seguidores do estoicismo, ao lado portico pintado.
Representação artística de Zenão falando sobre o estoicismo

O estoicismo começou a ser difundido na Grécia após a publicação de diversas obras de Zenão, tendo a “República” e “Ética” como suas principais obras, que infelizmente não foram preservadas com o tempo e o pouco que sabemos de sua vida e obras, foi contada por seus discípulos e historiadores posteriores. Zenão também frequentava um local chamado de colunata pintada, onde se reunia com seus seguidores para discutir ideias. Uma curiosidade é que esse local em grego era algo como Poikile stoa, e dai veio o termo estoicos.

O estoicos pregava que o ser humano deveria viver de acordo com sua natureza, buscar a excelência ou a eudaimonia, que basicamente era viver com bem-estar, ou a felicidade de acordo com a ordem natural. Se livrar de uma mente controlada pela razão e desejos era uma virtude para os estoicos. Mais tarde esses ensinamentos de Zenão influenciaria muitos filósofos como Sêneca, Epiteto e até mesmo o imperador romano, Marco Aurélio.

Zenão recusa o convite de um Rei

A fama de Zenão passou a ser conhecida em todo o mundo grego naquela época, inclusive chegando aos ouvidos de um rei da Macedônia chamado Antigonos, que certo dia enviou uma carta a Zenão dizendo: “Embora considero-me superior a ti em sorte e fama, considero-me inferior a ti no intelecto e na felicidade perfeita que conquistaste” e o convocou a fazer parte de sua corte, porém, Zenão recusou sob pretexto de que já estava velho, mas enviou dois jovens que considerava-os de mesmo nível intelectual para difundir a filosofia estoica.

Nem todos poderiam se tornar discípulos de Zenão

Nem todos tinham a oportunidade de se tornarem discípulos de Zenão, já que ele procurava por pessoas que estivessem prontas para mudar, deixando para trás hábitos prejudiciais em busca da virtude da Sabedoria. Semelhante à sua própria jornada como discípulo de Crates, Zenão buscava indivíduos que estivessem verdadeiramente comprometidos com essa jornada de transformação. Diz-se que certa vez um jovem de grande riqueza insistiu em se tornar discípulo de Zenão. No entanto, como um teste para o jovem, Zenão o fez sentar nos bancos mais sujos, sujando seu manto, e o fez conviver com mendigos. O jovem eventualmente desistiu, exatamente como Zenão havia previsto, o que levou Zenão a afirmar que, para ele, nada era mais prejudicial do que a luxúria.

Podemos compreender que Zenão almejava uma vida feliz e equilibrada, evitando excessivo apego a posses materiais, conforme ensinado pela filosofia estoica. Ele não apenas alcançou essa vida desejada, mas também exerceu uma influência duradoura ao longo de séculos após seu falecimento, impactando gerações sucessivas

A morte e o legado de Zenão

Há quem diga que Zenão morreu de velhice, de tanto trabalhar, outros contam que já de idade avançada, escorregou e fraturou um osso, e antes de morrer disse já conformado “Estou indo, porque então não me convocas?” claramente, aceitando sua morte, como algo que é natural e fora de seu controle.

Após sua morte, os Atenienses o sepultaram com honrarias e diversos sábios deixaram epígrafes em sua memória, destaque para a epígrafe do estoico Zenodotos: “Criaste a auto-suficiência e desprezaste a arrogante riqueza, Zenão, com teu aspecto grave e tuas sobrancelhas encanecidas. Invetaste uma doutrina viril e com muito labor fundaste uma nova escola, mãe de intrépida liberdade. Se tua pátria é a fenícia, quem poderia menosprezar-te?”

Os ensinamentos de Zenão, persistiram por anos após sua morte, influenciando grandes filósofos que contribuiriam para o enriquecimento do estoicismo, como Sêneca, Epiteto e Marco Aurélio e todos os adeptos ao estoicismo.

Ensinamentos e legado de Zenão

  • Estoicismo: O maior legado que Zenão deixou para o mundo foi a fundação básica da filosofia estoica, que enfatiza a virtude, o autocontrole e a serenidade como meios de alcançar uma vida boa e significativa.
  • Humildade: Zenão não se orgulhava de suas riquezas, seus pensamentos eram tão humildes quanto de um homem pobre, além disso, Zenão era um bom ouvinte, sempre declarando aos faladores: “a razão de termos duas orelhas e somente uma boca é que devemos ouvir mais e falar menos”.
  • Ética e Virtude: Zenão promoveu a ideia de que a virtude é o bem supremo e que a promoveu a ideia de que a virtude é o bem supremo e que a busca pela excelência moral é o caminho para a felicidade duradoura. Ele delineou princípios éticos que orientam ações baseadas na sabedoria, coragem, justiça e autocontrole.
  • Indiferença às Coisas Externas: Zenão nos ensina a importância de não se deixar abalar por eventos externos ou circunstâncias materiais. A verdadeira felicidade reside em nossa capacidade de controlar nossas reações às situações, em vez de tentar controlar o que está além do nosso domínio.

Se você tem interesse na filosofia estoica ou busca adentrar no mundo estoico, este blog é o ambiente ideal para uma imersão profunda. Não deixe de explorar nossos artigos dedicados ao estoicismo. Agradecemos sinceramente e aguardamos você em nosso próximo artigo!

Bibliografia

DIÔGENES LAÊRTIOS. Vidas e doutrinas dos filósofos ilustres. [s.l.] SciELO – Editora UnB, 1970. [🔗 EBOOK – AMAZON]

HOLIDAY, R.; HANSELMAN, S. A Vida Dos Estoicos: A Arte de Viver, de Zenão a Marco Aurélio. [s.l.] Editora Intrinseca, 2021. [🔗 EBOOK LIVRO FÍSICO – AMAZON]